sexta-feira, 24 de junho de 2011

LOGOCENTRISMO X DESCONSTRUTIVISMO



O pensamento desconstrutivista surgiu na década de 60, quando os estudantes reagiram a uma cultura que há muito já havia se estagnado e se enraizado na sociedade francesa. Essa cultura arcaica privava a liberdade de expressão do povo, que procurava cumprir com seus deveres, porém, em conseqüência, seus direitos eram esquecidos pelo Estado. Nesse período, a filosofia também era inquestionável, pois se fechava em seu dualismo absoluto como verdade pré-estabalecida, que girava em torno do logocentrismo. “O logocentrismo é uma metafísica etnocêntrica, num sentido original e não relativista. Está ligado à história do Ocidente” (DERRIDA (2006:98) apud LEAL). É daí que surge o desconstrutivismo derridiano, para contestar esse dualismo, para mostrar algo que vai bem mais além da filosofia, até então, tradicional.
            Derrida faz uma analogia entre um texto e uma cidade. Ele diz que um texto desconstruído é como uma cidade desabitada, “não simplesmente abandonada, antes assombrada pelo sentido e pela cultura.” Assim fica mais fácil de identificar as inferências de um texto, pois mostra a possibilidade de adentrar-se  no texto e, como quem ler a mente do autor, tirar conclusões com diferentes significados, até porque a proposta não é uma destruição, mas sim, um desmascaramento do original para se chegar a um sentido (significado).
            O papel da tradução é primordial nesse processo de desconstrução, pois, segundo Águiar (2000), citado por Gonçalves, “o texto traduzido nada mais é do que uma tradução de uma tradução anterior e assim sucessivamente.” O que ocorre, na verdade, é um jogo lingüístico, pois o signo não é estático, e sim dinâmico, variando de acordo com o contexto sócio-histórico-cultural de determinado texto. Pois “uma língua complementa a outra.” A tradução, então, é uma forma de viabilizar esse processo, proporcionando uma interculturalidade entre línguas.
            Enquanto Saussure afirma que “um signo é aquilo que o outro signo não pode ser”, Derrida, por sua vez, se contrapõe ao afirmar que “um significado torna-se sempre um outro.” Além disso, para Saussure, a escrita é um papel irrelevante em relação à fala. Já Derrida, desconstrói esse pensamento, e des-hierarquiza esse sistema, ao colocar a fala e a escrita em um mesmo patamar.


Sabe-se como Saussure, de acordo com uma operação tradicional, realizada também por Platão, Aristóteles, Rousseau, Hegel, Husserl, etc., excluiu a escrita do campo da lingüística – da língua e da fala – como um fenômeno de representação exterior, ao mesmo tempo inútil e perigoso. (DERRIDA apud LEAL).

Pois o ato de ler e traduzir assume um caráter dinâmico. Por conta dessa conectividade e interdependência de um texto para com outro, Derrida cria um neo-grafismo no conceito de différence para a palavra différance para comprovar na sua teoria que não há na língua uma pureza fonética rigorosa, pois essas duas palavras no francês soam da mesma forma. É importante salientar que nesse conceito Derrida tinha o objetivo de quebrar o paradigma de que o estruturalismo era um fim em si mesmo, e por isso, inquestionável. 
            Segundo Derrida, desconstrução “não é um método, nem uma técnica e nem tampouco uma análise, nem um modelo de crítica que possa ser sistematizado e regularmente aplicado a teorias, textos ou conceitos.”

Por: Sandra Morais
Graduada em Licenciatura Plena em Letras
Pós-graduanda em Especialização em Língua Inglesa:
Metodologia da Tradução.


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